A primeira vez a fazer Stand up Comedy

A primeira vez a fazer Stand up Comedy

O outro lado do Humor

A primeira vez que subi ao palco para fazer Stand up Comedy foi em 2003. 

Não deixa de ser curiosa a sucessão de acontecimentos que me levou ao palco e fez entrar a Stand up Comedy na minha vida.  

Em 2001, e paralelamente ao meu trabalho no Exército, escrevia guiões. Escrevi, longas metragens, séries e telefilmes e no percurso de tentar vender esses trabalhos acabei por marcar uma reunião na Sic Radical. 

A ideia era tentar vender uma performance chamada “As Sombras do Kama Sutra”, ideia onde um casal de modelos dentro de uma caixa fazia posições e toda a gente à volta via apenas as silhuetas. Não gostaram do Kama Sutra mas acabei por ser contratado para ser guionista no Cabaret da Coxa, um programa do Rui Unas na Sic Radical em 2003. Talvez alguns de vocês se lembrem do parceiro do Unas, um Papagaio chamado Baixinho que usava palavrões como vírgulas.

Escrevi diariamente as piadas do monólogo de abertura do programa e ao longo deste período o humor não só entrou como se entranhou na minha vida. A tal ponto que no final do programa decidi no meu íntimo que iria trabalhar em humor. Nessa altura a Stand up Comedy começava a despontar em Portugal e pareceu-me uma opção óbvia. Mas tinha um problema, eu tinha medo de falar em público. Medo talvez seja pouco, o mais correcto é PAVOR. Logo, fazer Stand up Comedy não era opção para mim.

Como quem não tem cão caça com gato, convenci um amigo a subir a palco com os meus textos. Eu escrevia os textos, ensaiava e conseguia os palcos para ele actuar

A acompanhar o meu testa de ferro assisti a muitos espectáculos até que houve um dia, e há dias que fazem a diferença nas nossas vidas, que estava a ver um espectáculo de um comediante que não estava a resultar, sendo claro, não estava a ter piada mesmo nenhuma. 

O silêncio era constrangedor. Havia um alívio mental a imaginar uma pomba a voar na sala e a fazer “truuuu truuuu”. O Comediante em palco não conseguiu risos, e despontou apenas um ou dois sorrisos de comiseração e outros tantos de superioridade.

Eu sentado confortavelmente na plateia, fiz o que todos seres humanos fariam, julguei-o. Pensei “este rapaz não tem mesmo piada nenhuma, coitado”. Mas no mesmo momento “caiu-me a ficha”, o “coitado” à minha frente tinha coragem para estar em palco e eu NÃO!.

Esta tomada de consciência mudou  minha vida, e o “Paulo produtor” obrigou o “Paulo guionista com medo de palco” a dar o corpo às balas . Obriguei-me a subir a palco logo na semana seguinte, e foi assim que comecei a fazer Stand up Comedy.

É bom quando nos obrigamos a enfrentar o desconforto, qualquer que seja a desculpa. Ainda hoje agradeço secretamente ao rapaz por não ter tido piada naquela noite.

20 anos depois aqui estamos.

Já agora a minha estreia foi na Praia Grande em Sintra num bar chamado Kontiki. 

E é isto.